sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

jantar de ano novo


fogos sem sinfonia
calor dos infernos
felicidades de plástico
mas não no belvedere, 1501
aqui as graças do ano novo estão estampadas
e as degusto
com cara de dândi decadente
com a mesma cara
engulo
bem assados
as asinhas
as coxinhas
os peitinhos
das malditas calopsitas

magen david


dia de leito
os cães latem a caravana não passa e a inundação na geórgia
deixou mortos e feridos
aquela estrela
(meu calcanhar de aquiles)
está agora anos-luz do campo de visão
talvez em marte haja outro pé braços costas
talvez em marte haja
porque por aqui perto não têm mais

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

verdades e mentiras


verdades não são ditas
idiota
sobretudo porque no las hay
também mentiras não existem
idiota
embora haja por ai
moedas não tem dois lados
assim como um mais um nunca dá dois
e se navegar não é preciso
muito menos o existir

há sempre as margens
os vãos
o puzzle que não encaixa
e a saudade doída do que éramos
há dias atrás

5 X 1


não há pinto que me console
nem puta que me faça desconsiderar
pelos podem resistir
assim como palavras que não vingaram
mas quando o corpo desiste
nada mais há que ser feito
é o cinco contra um
escondendo o empate

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

guest

voltar à casa
após as passagens
memórias apagadas na marra
cheiro da morte alí na fuça
cores que jamais terão brilho
a sobrinha ri
o sobrinho joga
a irmã cochila

eu
sem lugar nesse sem tempo
passo a perna
lanço um encanto
daqueles que faziam a mãe rir
e decido
pegar a estrada

domingo, 26 de dezembro de 2010

uma, duas, três noites


tres noites. nem tristes. tragos & mais tragos de cigarro & gim. corpo comportado. alma bem fraquinha. tv boba & muitos planos. três noites. um tanto tensas. as vezes o copo cai da boca. um estranha sensação de outro tempo de tempos passados de coisas fugazes que puff ficaram prá traz. uma certa moleza me impediu reações mais fortes. impetuosas. três noites. nem anódinas. andando com andrajos & alguma coisa na cabeça. três noites. nem um beijo. ou lingua que se pusesse pra fora. fora as falas. o amor deveria ser mudo. como os trapistas. três noites. bem toscas. & eu monge de trololó com as nuvens. a música devia ser boa. também o bombom. bobo fui eu.
não bastava dar um basta em nada. três noites. nenhum triste tigre. só um vechietto. a contar as horas. a catar as pontas. a cair do salto. a fazer besteiras.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

sans vitesse


você fala para ir devagar


e eu paro


não sigo nem retorno


empaco


não movo um milímetro


meu magro e decrépito corpo


para ir devagar


eu não sigo


ou o Sturm und Drang


devora meus miolos


ou mudo para a cova


que eu mesmo cavei


frio ou quente


pois morno eu também vomitarei na tua boca


então anuncio


para ir devagar


eu não vou

esta noite dormi com vc


dormi

dormi pesado

de pau duro

pau fodendo cueca

colchão

cabaços na cabeça

ao lado

viados

nas viras

do lençol

ladainhas mineiras ao fundo

sextilhas não decoradas na boca

& colheradas de desamor

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

tatoo


como o pi

q pinta suas costas

acompanho seus passos

as vezes muito largos

perto

& longe de mim

feixes de luz escorrem

das faixas

pretas

que repartem seus braços

as vezes muito frouxos

fortes

ao negarem o sim


feliz

mas as vezes ferido

& completamente portuguesa

vc sinaliza meu fim

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

solitude


solo seule solito


ruas abaixo ruas acima


o carro corre sem pensar onde passa


nenhum transeunte


nenhum estranho


é capaz de dar um alo um adeus um olá


os conhecidos todos dormindo


nenhum amigo de braços abertos


ou de bruços


nem colega


a cidade se fecha


meu coração se fecha


bye



domingo, 5 de dezembro de 2010

NINA SIMONE: I PUT A SPELL ON YOU

u put a spell on me


1.

91432321 toin toin toin. 87674367 toin toin toin. 93345875 -----
3 dias perdido & sozinho 86683212 ----- tocam todos meus telefones:
enganos. cai o céu. nada na tv. um tesão passa por mim & passa. fecho um livro.
abro a blusa. entreolho o canto da porta. comida de ontem. café de anteontem.
leite da semana passada. 84633597 toin. 73544400 chama chama chama. 76879898
este número não existe. nem esta agonia. nem aquela alegria. se bastasse um beck um baseado.
2.3becks.outros tantos baseados em enganos por não ter aprendido ler as almas.
74543786 ----- 94978329 toin toin. para o seu numero não ligo. 9321...



2.

passei baton. perfume. vesti-me de biscatinha. bem dada. bem comida. & fui pra vida.

na esquina quebrei o salto.

no meio fio deixei meu orgulho.

na frente de seu prédio mijei tres vezes.

com medo de cagar mais voltei para para casa & deitei.

não me lembro de ter dormido.


3.

desisti de você
mas que esforço tenho que fazer
para não abrir a geladeira
para não encher a cara
para não furar os olhos
para não arrancar meu pinto
para não fazer besteira








sábado, 4 de dezembro de 2010

vingancinha gastronômica II


comi de novo aquele prato
repeti a dose

fui & voltei do céu tres vezes


mas moro no inferno

mundo de seus bolos & do seu jeito

de destratar as pessoas

capeta

cão


o caralho é que estou portuguesa

& sentimental

& não mais a fim de procurar significados

como se tivessem alguma importância


sem ponto

sem vígula

sem reticências





acidente de percurso


sou capaz de pegar e capar

quando meus monstros escapam

a minha compleição se altera

meus olhos saltam

espumo a boca como um envenenado

dou tragos e mais tragos nos cigarros que nem fumo

e encho a cara

de rivotril

pra segurar meu facho

eu me rasgo todo

me lanho de raiva

e meu pau

premio a toda hora

desiste e parte

naquela noite que eu chamei você fodia


mascar essa bala dura até doer os dentes


mascarar os vincos & os fossos brotados


até não mais te reconhecer


emoldurar o vazio que brota de tua carne tenra


& enquadrar esta alma bandida que pisoteia anjos


no código penal




rever


as reverberações inúteis


recolher


o corpo & o desejo










sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

bolos & doces


horas & horas a fio

salas vazias & outras cheias

um automóvel passa

dois

três

o relógio roda

o estômago revira

sorrisinhos dispensados ao léu

& levas de raiva abundando na boca

lavas de ódio amargam o doce

que estava pronto pra ser servido


era bem mais fácil

quando as vinganças

vingavam