quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ira Zorn boosheid anger

meu traseiro não é bom suficiente para você
vociferou ela tão sentida tão magoada
bela e abandonada
porque de nada adiantara
fora tudo sem efeito
ter lido ruth berlau
saber o significado de Überraum
& não conseguir dar o cu direito

cinco dias sem você


Cinco dias sem você. Nunca ficamos tantos dias separados desde que nos aproximamos.. Colocar a sua ausência em palavras é uma coisa difícil. Mais fácil mostrar a minha dor bem doída a cada fração de minuto.

Dia um: voltei pra casa. Torci pra um casal de amigos aparecer. Preguiça grande de cozinhar e algumas decisões inúteis. Fiquei ouvindo músicas tristes, assisti tv, deitei, dormi. As três e pouco  ou quase três toca interfone. O casal de amigos. Odiei. Devia estar sonhando com você, mas noblesse oblige, os recebi. Rimos  muito. Falamos muito. Fumamos muito. Eles bêbados e eu apaixonado fomos dormir umas cinco da manhã.

Dia dois: saí de casa só pra ir ao Elizeu buscar pão e mortadela pras visitas. Um sábado silencioso. Arrastado. E os dois na minha casa. Acho q eu queria chorar sei lá. E os dois na minha casa. Fiz almoço, fiz jantar e os dois na minha casa. Dormi a tarde. Assistimos a meu filme favorito. Rimos. Fumamos E meia noite foram embora. A experiência de estar sozinho e você em outros braços foi estranha e mexeu muito comigo. Sempre julguei o ciúme vaidade e ardi em ódio, ira, insensatez, autopiedade. Vi-me corroído pelo ciúme.  Em  dez ou onze anos jamais tive ciúmes e agora me vi Medéia. Nem a madrugada teve dó de mim.

Dia três: acordei cedo batendo cabeça. Toda hora me vinha: autocontrole, mantenha o autocontrole. Pensei em pegar outros braços mas a ideia me deu preguiça. Depois raiva. Depois talvez nojo. A pureza  nunca esteve em meu horizonte mas eu me trairia se outros braços tivessem abraçado a minha causa. Trair a mim mesmo é uma ideia que não concebo. Tentei as bobeiras  da tv. Ouvi o universo cantar I get along without you very well. Senti sua presença , sentei na cadeira e fiz o plano de curso que devia

Dia quatro: um dia vazio, sem nenhum significado. Desprezível dia. Busquei pela casa restos de sua presença. Tive medo de te perder e fiz  três poesias. Todas elas ridículas. Como convém nesses momentos em que a água, mais que na bunda, toca o pescoço. Tentei organizar a casa, mas eu estou desorganizado. Não consegui por um copo no armário. Não consegui trocar a cueca. A roupa de cama. Os tapetes do banheiro. Seis por meia dúzia.

Dia cinco: o pior desses dias terríveis. Yom kipur de caipira de quipá. Fino só até na esquina. Perdido nos sertões de seu imenso coração. Não teve um dia em que não pensei  como pode você ficar tão longe de mim e não achar uma fresta, um biombo, um buraco, um banheiro pra dizer olá e encher minha alma com a sua paz. Não consegui preencher o vazio que deixou.  Conto as pílulas que tomei pra não tomar nenhuma atitude. Combinado não sai caro. Pego minha ternura passo o terno e passo o dia. Assim: na mais pura ansiedade. Daquelas que doem nos músculos e provocam flatulências. Quem sabe em um sobressalto você me acorda e me traz de novo ao planetinha azul.

Dia seis: que não haja sexto dia. Nem sétimo a desesperar. Cinco foram suficientes para  percorrer os dentros e os foras de minha existência. Que não têm espaço na sua geografia. Enquanto espero não deixo entrar a luz do dia. Só faço samba.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

miedo de perderte

1.       na equação da cumplicidade estou prejudicado. é visível para onde pende a balança. ainda assim já caminhei demais pra retornar & os atalhos nunca foram bem vindos. perdi-me em todos eles. & agora eis-me achado mas sozinho comendo kebab babando rancor & virando os olhinhos

2.       quero manter tradições ao mesmo tempo em que me posiciono contra as heranças: por isso esta carta ridícula. carta de amor. se até cartago foi destruída por que não meu coração?

3.       falta-me imaginação para compreender a propedêutica de seu sorriso. por isso abri as janelas de meu carro & deixei o ar entrar.

4.       busco nas frestas da cidade os sinais da tua ausência. um tema de jazz se enfia em minha alma e filetes de sangue descem pelas narinas. claro que consigo ficar bem sem você. exceto quando chove ou faz sol.

5.       miedo de perderte.  noites desdormidas & esse carnaval a cavar minha cova.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

uma das belas artes


junto as facas  organizo os punhais lustro as adagas
adiciono a cicuta a digitalis a beladona
arquiteto um genial plano para abater as bibas
& os abutres
um plano que implica em empalamento e outros vilipêndios
onde o pior de mim todo se aglutina para acabar com as sete vidas
que os filhos da puta insistem em ter
por isso masco três páginas do velho de quincey
& mal posso esperar o sangue na minha gengiva
quando contemplar os espasmos desses homens
que plantam distâncias

domingo, 5 de fevereiro de 2012

interdisciplinaridade

uns quarenta metros os aproximam
além dos mesmos procedimentos
espanta-me o mesmo prazer de espezinhar
as expectativas na boca da  sua realização
abolindo definitivamente o princípio da minha certeza
de partilhar os lugares geométricos
de esquadrinhar  os planos cartesianos
& habitar o  mesmo espaço geográfico

sábado, 4 de fevereiro de 2012

presente de grego


era um presente de grego
não vi os dentes do amor
só a cupidez preencheu meus ocos meus vazios
valei-me deus valeu-me pouco
aprendi a viver sozinho
errar sozinho
cozinhar banquetes e atirá-los ao lixo três dias depois
fazer bico teatro drama
um splosh morno
um sexo mal feito  uma metida mal dada
o deus dará finalmente terminou sua cria
aquele que já não almeja
não mostra os dentes
nem mija


4jlc

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

farewell ao modo de ana cristina césar


você não entende minhas palavras
aquelas que saco do bolso & lhe dirijo
embora ruim de volante
todas você é o alvo
acerto as vezes
mas como sempre erro
não trago borracha
que apague meus equívocos
você tem todo o tempo do mundo
eu já ando pelo apito final
tirando a chuteiras
guardando a bola
dando byes
despedindo dos amanhãs
sem nenhum alô
levando malas & malas
de desconsiderações
4jlc

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

palco scenico


não é fácil passar a limpo textos não escritos
percorrer esses labirintos
sem escorrer pelos ralos
é o segredo de dédalo
posso sim sufocar os anos o tempo as histórias
mas contornar sua crueldade
é tarefa para os fortes
quanto a mim menininha  dengosa
putinha com manha
pinto a cara
desenho a boca
& volto para cama
contabilizando as dores
& seu repertório de gritos