segunda-feira, 27 de junho de 2016

broken

cruzei os dedos quando te cruzei

como podia deixar passar tanta vida respirando brava e forte com fartas doses de doçura que eram quase diabéticas doses de doçura delícias que eu sorvia com minúcias entre miríades de palavras e pensamentos e alguma ação política coordenada pelo seu incontestável politburo?

fiquei de bem comigo com minha carreira com meu corre e toda essa correria encerrada no que se designa como um cotidiano e rotineiro dia a dia

mudei de lugar e de roupa dez vezes dez mil vezes inúmeras vezes fui o diabo do meio do redemoinho mas que ao dormir sonhava com você e os anjos e o inferno era o mais lindo dos paraísos perdidos e imperscrutáveis

mas você mudou de ideia e na outra não couberam meu corpo minha cabeça e coração essas coisas que se deseja que caibam quando se deseja e por isso cabe mas não coube

eu fiquei aqui esquentando o ano sozinho sonhando achar algo logo em milano ou no lago de como ou em lugano onde depositei meu dinheiro e minha esperança de sobreviver sem merecer suas demasias como um mineiro

no rio de janeiro



segunda-feira, 20 de junho de 2016

parole


As palavras vomitadas não fazem tão mal como as engolidas
Dá pra ver o que elas dizem
Dá para sentir seu cheiro e sabor
Elas ali em meio a alimentos mal mastigados, nadando em fluidos bem corrosivos, piscinas quentes de ácidos e ilhas a quebrar as ligações entre espírito e matéria
Mas as engolidas...
Fodem a garganta e a alma da gente
Descem arranhando o esôfago, embrulham o estômago e nos dá nó nos intestinos
E quando finalmente a gente caga
Sente o tamanho do estrago
Na alma.


domingo, 12 de junho de 2016

noise


havia de ter mesmo muito barulho e rojões e gritos e hard rock para quem  andava assim meio bossa nova e low profile nesses tempos de inverno.

a baba inconjunta de seus lábios nos meus beiços:  nem era mais barulho era música era mozart era mágica. aos olhos e aos ouvidos. até dos desavisados.

nem de longe me passou à cabeça o papel principal de minha profissão: não houve tempo não houve espaço. Por essa mordidinha você me paga. e recebeu.

nenhuma dialética. só células arranjos e muita magia. coisas desacostumadas e novidadeiras num jogo de abraços longos e apertados.

notei que todos os seus olhos azuis formaram um mar onde não havia mais nem céu nem frio tamanho azul que iluminava a cena no canto escuro desse bar de moços e maços de musicas que não compreendo mas gosto desde a infância.

para irritar evito as rimas e as distâncias.

amanhã ainda não saberei seu nome. mas me aguarde na segunda. 



réquiem


teria sido mais divertido & duradouro a gente ter surgido das partes baixas experimentadas & faladas & invitadas & invertidas & multiplicadas & divididas como novidades fadadas aos mesmos & muitos pegas & pancadarias aos pares, impares & alguma multidão. mas nós viemos da vaidade apesar dos uivos ouvidos por mim & por você. dois corpos eram demais & muito pouco para ocupar todos nossos espaços & deu no que deu. nesse imenso &  vazio mar de letras & nada. 


quinta-feira, 9 de junho de 2016

protocolos



Eu me peguei sendo ridículo. E fui pego sendo ridículo. De saída já sendo ridículo. Na continuidade, ridículo. Havia de ter uma fórmula que equacionasse os anos e a gente fosse assim aos poucos desistindo. Inclusive de ser ridículo. Mandei sinais de fumaça. Carta. Telegrama. Telex. Fax. Bip. E-mail. SMS. Whatsapp. Expus o que tinha em mim de ruim e de ruim. Mas nem era novidade. Nem baita, nem mínima. E nem bem embrulhado estava. A primeira bala foi doce. A segunda hummm sei não. Na terceira teve até um fundo amargo. Não houve quarta ou quinta. Não haverá a oitava e não perderei as contas. Deixei de insistir nessa nota. Eu me tornei protocolar.


domingo, 5 de junho de 2016

cigarros

1.
Gosto que você fume. O sabor que o tabaco te dá, meu tempero é incapaz de chegar perto e fazer algum efeito, ainda que inesperado. Inúmeros medos meus sobem com a sua fumaça e respiro fundo esse hálito acre que me submete e reconforta. Quantos necessários desmaios terei que enfrentar, pois seus tragos sorvem minha alma e você não a devolve? Evito ir nesta direção, por este caminho, por isso o desvio, a curva, o detour. E você ri enquanto segura o cigarro, com seus dedos amarelos, ledos enganos de uma Dietrich do centro que se diverte em quebrar corações.
2.
Fumar te faz bem. O cigarro te completa. Algumas vezes quis até leva-lo à boca e tragar como se beija, de olhos fechados. Mas tive medo de me apaixonar por você.
3.
Não foi suficiente meu esforço em te fazer perceber que sua fumaça me oxigena e renova. Tentarei o álcool naquele boteco. Depois coca naquela esquina. E emedeá naquele apê.  Torça muito que não te encontre jamais nesses cenários, nessas circunstâncias.
4.
Um monte de guimbas dorme ali naquele cinzeiro que não cinge nem carrega nada que foi teu. Não me atormente nem me deixe sozinho nessas zonas de desconforto cardíaco, psíquico, filosófico e frasal.
5.
Ah! por favor, enfie essa bituca em seu cu, não no meu coração.