Cinco dias sem você. Nunca ficamos tantos dias separados desde que nos aproximamos.. Colocar a sua ausência em palavras é uma coisa difícil. Mais fácil mostrar a minha dor bem doída a cada fração de minuto.
Dia um: voltei pra casa. Torci pra um casal de amigos aparecer. Preguiça grande de cozinhar e algumas decisões inúteis. Fiquei ouvindo músicas tristes, assisti tv, deitei, dormi. As três e pouco ou quase três toca interfone. O casal de amigos. Odiei. Devia estar sonhando com você, mas noblesse oblige, os recebi. Rimos muito. Falamos muito. Fumamos muito. Eles bêbados e eu apaixonado fomos dormir umas cinco da manhã.
Dia dois: saí de casa só pra ir ao Elizeu buscar pão e mortadela pras visitas. Um sábado silencioso. Arrastado. E os dois na minha casa. Acho q eu queria chorar sei lá. E os dois na minha casa. Fiz almoço, fiz jantar e os dois na minha casa. Dormi a tarde. Assistimos a meu filme favorito. Rimos. Fumamos E meia noite foram embora. A experiência de estar sozinho e você em outros braços foi estranha e mexeu muito comigo. Sempre julguei o ciúme vaidade e ardi em ódio, ira, insensatez, autopiedade. Vi-me corroído pelo ciúme. Em dez ou onze anos jamais tive ciúmes e agora me vi Medéia. Nem a madrugada teve dó de mim.
Dia três: acordei cedo batendo cabeça. Toda hora me vinha: autocontrole, mantenha o autocontrole. Pensei em pegar outros braços mas a ideia me deu preguiça. Depois raiva. Depois talvez nojo. A pureza nunca esteve em meu horizonte mas eu me trairia se outros braços tivessem abraçado a minha causa. Trair a mim mesmo é uma ideia que não concebo. Tentei as bobeiras da tv. Ouvi o universo cantar I get along without you very well. Senti sua presença , sentei na cadeira e fiz o plano de curso que devia
Dia quatro: um dia vazio, sem nenhum significado. Desprezível dia. Busquei pela casa restos de sua presença. Tive medo de te perder e fiz três poesias. Todas elas ridículas. Como convém nesses momentos em que a água, mais que na bunda, toca o pescoço. Tentei organizar a casa, mas eu estou desorganizado. Não consegui por um copo no armário. Não consegui trocar a cueca. A roupa de cama. Os tapetes do banheiro. Seis por meia dúzia.
Dia cinco: o pior desses dias terríveis. Yom kipur de caipira de quipá. Fino só até na esquina. Perdido nos sertões de seu imenso coração. Não teve um dia em que não pensei como pode você ficar tão longe de mim e não achar uma fresta, um biombo, um buraco, um banheiro pra dizer olá e encher minha alma com a sua paz. Não consegui preencher o vazio que deixou. Conto as pílulas que tomei pra não tomar nenhuma atitude. Combinado não sai caro. Pego minha ternura passo o terno e passo o dia. Assim: na mais pura ansiedade. Daquelas que doem nos músculos e provocam flatulências. Quem sabe em um sobressalto você me acorda e me traz de novo ao planetinha azul.
Dia seis: que não haja sexto dia. Nem sétimo a desesperar. Cinco foram suficientes para percorrer os dentros e os foras de minha existência. Que não têm espaço na sua geografia. Enquanto espero não deixo entrar a luz do dia. Só faço samba.
"As três e pouco ou quase três toca interfone. O casal de amigos. Odiei...."
ResponderExcluirCreio conhecer esse casal de amigos ...