sexta-feira, 10 de agosto de 2018

sonhei com você


Fiquei doente quando vc me deixou
Doente de raiva doente de ranho e doente dos rins
E depois desse tempo longo todo nada mascando destemperos
Sonhei com você
Eu que nunca sonhei com minha mãe sonhei com você
Não não lambi teu cu nem argumentei que Debord devia considerar a possibilidade do espetáculo ser o teu maldito prazer
Você me ofereceu uísque
Sabia como eu queria
E estava vestido de indiano. Ou de árabe em festa. Talvez de armênio
Reparei no bigode raspado e imaginei outras partes que rolas e lâminas roçam nos banheiros, nas ruas e nas saunas
Acordei sem beber a porra do uísque
Nessa casa não faz sentido ter café as três da manhã
Nem o cultivo do ódio a essa hora

quinta-feira, 12 de julho de 2018

manhãs, tardes, noites


O dia passa pesado difícil
As piores horas são todas, mas as manhãs...
As manhãs trazem mais fortes as dores
Era a hora que eu tinha você
Era quando nós cansados mas despertos olhávamos o mundo
E o que ele nos oferecia
As manhãs eram radiantes
Nossos corpos brilhavam
Brotando livros histórias planos e mais brilhos e becks e montanhas de algoritmos e ternuras
Hoje e há dias não faz sol algum
Sobre minha existência
Em mim tudo repousa na sombra

Nas tardes não existo
Desato as dores e não te desculpo

As noites
Ah as noites
Sempre foram o que são
Minha coleção de corpos à direita
A tua coleção à esquerda
Alguns dos corpos trocados
Em farras em festas em fodas rápidas outras nem tanto
E separados voltávamos de alma e saco vazios e por vezes alguns desesperos

Logo surgia o dia
E eu era todo teu
Mas agora há um ódio nesse pretérito
Construído a cada manhã
Calculado a cada virgula
Como uma vulgar peça de inquérito




quinta-feira, 21 de junho de 2018

4 gritos e 1 sussurro


       1. Devia ter te dado as costas quando eu era como kaváfis que você não conhecia mas ainda não entende porque afinal sua praia está onde estão homens que te aborrecem depois de aproveitar bem cada minutinho, cada dedinho, cada cadinho e muitos sonhos derrubados por esse chão.

2     2. Devia ter te dado as costas quando você monoglota militava em belos e inócuos arroubos como aquela ação naquela sala que trancou meu coração de alegria e de vergonha pela palavra errada e confesso que achei fascinante encontrar força e ignorância expressas nas paredes e no meu corpo.

3     3. Devia ter te dado as costas quando a escuridão e as dores caíram sobre seu você lembranças de gordo perdido entre o desejo e a japonesa, a coxinha  e o queijo, o quero e não quero, a filosofia e o mal, a vida e a morte.

4     4. Devia ter te dado as costas e não lambido seu rabo, enchendo você de saliva e oportunidades de ser o que se é nesse mundão de um unico Deus que caga para pessoas como eu, mas também como você.

Nossa história foi um duelo pervertido de narcisos: um mijou na cara do outro deixando ambas existências feias e fedidas.


bye bye bogotá


Nem sempre é dia de sol nesse planeta
tem vezes que chove na galáxia
e de nada adianta achar ou perder dentes e estribeiras
esse universo não é para os fracos
fosse outra voz que me ensinasse outra vez ainda assim não aprenderia
nada
e seguiria errando
e errando por esses caminhos em que me perco
atravesso uma ruela
erro o passo
piso em falso
e me apresso
em direção à nenhuma direção
ignoro as placas e as setas
a chuva molha a alma e a barra da calça
tenho vontade de rir quando hablan comigo
na minha mão um copo vazio reclama o gim
e todos os dias encontro corpos caídos junto aos cacos junto aos copos que são recolhidos pelos serviços de limpeza que paradoxalmente funcionam bem nessa cidade

(após a ponte a parcela de dor aumenta. estabeleci ali a linha verde: para la mi muero para cá mi mata
aquém do que sobrou de ti aí sim algumas maravilhas para amenizar os desencantos: frutas macias e bonitas mordidas sob frios chuviscos que me lembraram que estou vivo, ainda  que respirando por esses aparelhos amarelos vermelhos alguns marrons organizados em caixas ou em cestas ou descansando sobre um pano sujo)

músicas ecoam escoando delírios. yo por ti seré, culebra e desviei do grupo de rapazes que me olhavam com olhos de espanto e algum escarnio. parei na frente de letreiros de neon hoje led e teria ficado lontano lontano se estivesse na itália mas não estava. dilema entre o entrar e sair correndo quando São Jorge Alonso de los Tacones me sorriu e me conduziu para o balcão de bar de fórmica falsa onde copos dançavam e faziam estripulias. pensei no destilado que beberia e no  arrigo roubado. whisky, señor. esforcei-me para não perder a razão e nem a consciência

senti seu cheiro quando acordei
alguém arrumou a bagunça que fiz antes de bater perna
dor de cabeça de altitude e  de álcool não passam com analgésicos
o mundo visto de cima não faz sentido
há um vazio na minha barriga q faz gelar a alma
oh la dolorosa distribuidora de pedaços nacos bocados de sua própriia carne aos famintos.  saciai-me.
esses dentes essas mordidas não foram os cachorros que cravaram. nem os cavalos.

o prazer foi meu seguido por sete dígitos estavam estampados no bilhete com a marca do hotel.

a cidade de dia é diferente. também nessa hora o são os desejos. cheiro de café. gente que passa apressada indo de nada a nada e muitas pombas. das mais estúpidas.
e o carros entopem as vias pessoas caminham. outras correm.
um ônibus vermelho passa. dois. três.
paro nas inúmeras paredes rabiscadas.
os desenhos me atrasam
vejo vitrines
assisto a cidade que a tarde traz outras vontades.
em chapinero há formas de ser para todos os gostos. escolhi três delas
mas meu dedo deletério
(por que sera q as pessoas são tao deletérias? sinto que também apodreço qdo toco nelas)
trouxe de volta
o rapaz da pedra o rapaz da funda
ó tu davi
tu com a pedra e tu com a funda
ao mirar meu corpo todo
acertou bem certeiro o centro do meu olho
que vaza sangue
pela órbita vazia.
quando voltar semearei rosas nela
para ver a qualidade dos espinhos

Jorge Alonso me conduziu ao hospital e depois ao hotel
acompanhou as minhas dores
disse palavras confortantes.
dormi em seus braços.
devo ter babado.

O sol se apresenta ao meu adeus
com o olho que me sobra olho a rua pela vidraça
não parece haver pressa nessa cidade
nem apreço que venha de ti


disse adiós ao porteiro
e bye bye a bogotá
(o sonho de aleka foi meu mais terrível pesadelo)

aaaaaiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnn uooooooooonnnnnnzzzzzzzzz crashhhhh shhhhh
shhhhh  arrrrrrrr rchrlllaaalllllllllk ahhhhhwosssss placrrrrrrrrrrssshhh
craaa krttttoillllnn PÁÁÁ
tzoinnn bibibpiipitiiiiiii PÁÁÁÁ
...

 Não houve mais nenhum outro dia



segunda-feira, 4 de junho de 2018

a mordida de Nietzsche


Eu já quis beijar tuas partes
As mesmas que lambi & mordi & sei lá eu o que mais fiz nessas partes que me inteiravam do mundo & deixavam vivos os vivos porque pouco interesse tenho em ver as coisas mais de perto então me pus míope quase cegueta muito vagabundo para abrir os olhos & proteger-me de suas carnes tóxicas chumbinho que mata quantas vezes forem necessárias a morte

Eu já quis lamber os seus beiços
Esses mesmos que hoje se calam mudos de vergonha enquanto lambem paus & balcões do ulises ali na carrera 15 toda verde de desiludidos & desilusões passadas a centímetros espessuras de gente grande & vazia que ocupa a tua vacuidade larga & mesquinha em que folgadamente me lancei & me perdi nesse éter

Eu já quis morder a tu alma
Essa mesma alma pequena medida a dedos lambidos & passos perdidos andando round & round pelas ruas fechando a cara & os sinais dessa urbe caótica que geme a noite até as três da manhã para desespero dos vivos que caem em suas teias para serem devorados à luz do dia por você & por todos os seus demônios

Hoje as horas não passam de nada adianta dante contar os minutos os segundos tentando segurar a eternidade em que estou condenado a arder com uma dor infernal por ter querido as tuas partes beiços alma que são distribuídos em bocados aos bêbados & aos inválidos ou jogados pelas ruas molhadas dessa cidade alta em que te perdi
: hoje acho que te quero mal




sexta-feira, 18 de maio de 2018

sim e o coração dele batia que nem louco e sim eu disse sim eu quero Sim



Ulisses contemporâneo que se afeita e afeta-me até eu não saber o que são contas partos ou postos de observação
Ulisses do meu tempo
para que tantas páginas? bastava uma: a frente e o verso
formas variadas de expor a sua nudez rabiscada
pelos meus dedos
Queria ter outras maneiras de estar em sua imensidão
ou na dimensão pública de seu afeto
Afoito que sou já preparei os jantares todos eles prontos a proporcionar os prazeres meus e teus sob os aplausos dos homens de saia
E nas vinte e quatro horas de sua vida  toda odisseia mal posso esperar os minutos para ver o que há de novo entre conchas linhas estrelas hipocampos e tuas pernas
que lambo de baixo ao alto
depois da mijada em meu jardim num dia comum de junho


quinta-feira, 15 de março de 2018

Bye bye Manchester


Acordei com os braços doloridos

Como dizem os dados há 720 modos de existir mas somente 21 podem dar certo. Uns dizem numerologia outros acaso outros ainda dizem que nada dizem mas a dor nos braços incomoda mais do que o leque de probabilidades. As malas estão todas cheias de adeuses & coisas escondidas muitas ilegais outras ainda a enfrentar mas é a vida dançando pesada com seu passo de elefantinho drogado que acha que pode voar como aquele dumbo estúpido

As alegrias não couberam nas malas e ficaram na memória.

A escada é longa para descer
Outra maior para subir

Na plataforma homens se entreolham mulheres sorriem crianças choram cachorros latem pombas cagam. Como cagam as pombas meu Deus!

Meus braços

720 ônibus passaram em direção ao mundo e eu que deveria ter subido em todos pus-me a conta-los. Em conjuntos de 21. As vezes alternando de nove em nove para variar. Quando cansei bati em retirada. Minhas estratégias geralmente não passam da esquina.

Pensei que dormia mas era apenas meus braços que doíam enquanto meu corpo ia away por alí à esquerda

: bye bye Manchester até mais não ver