segunda-feira, 9 de maio de 2016

concerto grosso

antes fosse uma anta ou um parvo do que estar nessa de pensar em você enquanto dobro a esquina e desapareço nesses fogs que passam pelo meu corpo arrepiado de frio e de pouca raiva pois não houve gim suficiente para aquecer meu pau minha ira e minhas pernas.

essa nostalgia idiota que não cultivo me põe todo sentido e enfadado feito um português bizarro que toma sua canja com tanta saudade que me emociona.

você voa gostoso comigo pelos espelhos d’água pelas portas sujas e pelas pontes que nos ligam a ti e a mim à cidade tua não minha mas tão minha agora quanto tua já era antes mesmo de saber que ela e você existiam e que tinham cores e cheiros e desejos e significados e tantas vastas ausências que me comoveram como me comovem os patos os pobres e os estrangeiros ainda que não os veja pois várias vezes fecho meus olhos para não te ver.

olhei já mais que três vezes mais que trezentas e três e tantas outras vezes esse aparelho inútil que não toca não pia nem apita quando acordo assim cedo e obcecado pelo seu corpo que tem tons de vermelho e que se entumece quando executo o concerto grosso de vivaldi.

depois de dias reapareço ali naquele velho pagode cenografia barata de ópera chinesa ou de drama italiano. nenhuma outra grega tragédia se anuncia nessa manhã comum.


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