quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

easy listening poem


no meu sim
centenas de nuvenzinhas formaram um poema fofo
pretensamente imenso
sem vírgulas a pausar esse contínuo
sem hiatos a separar ou fossos a superar
um riocorrente de arrepios e sensações estranhas
estranhamente sem um palavrão
a palavra maior recolho por ora
para deixar brotar do silêncio
o sorriso que me agarra
com força
nessa hora
tensa

sábado, 17 de dezembro de 2011

aniversário


hoje é seu aniversário
sorrisos fáceis
velinhas acesas
doces a dar com pau
& seu descompromisso com a humanidade
um beijo um abraço um aperto de mão
salada mista apenas aos que merecem
não sei porquê as crianças crescem

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

fünf Konzepte

1.
a chuva virá para lavar almas
y cuerpos
por supuesto
mas também para inundar
o de dentro
fosse luz iluminava
o conceito
que abarca
mas não explica
porquê meu pau fica duro
quando vejo você

2.
trovinhas de amor
caderninhos de rimas
boquinhas perfeitas para chupar uma rola
enquanto nos confins nos grotões
as velhas rezam por nós

3.
passam  o tempo & a paciência
a chuva também parece passar
ao redor
do cerne
da questão
não no cerne
âmago da questão
que me olha como o cão de pasteur ou o próprio diógenes

noto o cuspe na ponta da lingua

4.
há filosofia demais no nosso meio
uma física estranha
uma química mística
um paradigma e meio
além de duas semióticas

5.
eis que chega
formosa & aguardada
chuva benfazeja
que seja essa delícia
como o frescor da tua carne
que trago sangrando
pendurada nos meus dentes

terça-feira, 29 de novembro de 2011

4 haikais (ao filho de shaul) + um

1.
fosse outro tempo
seria outro
não seria o nosso

2
você deixou david
& a mim
a ver navios

3.
a extensão de seu corpo
de tão grande
me cabe todo

4.
não há cu mais doce
que o teu
quando salga o meu dia


posfácio

você roubou minha alma
quando beijou os meus olhos
: perdido
vago pela vastidão de seu tamanho

clown

para que fazer-se de morto se vivo vives
em outros braços
em novas barcas & casquinhas de siri?
sabado perdido no suor de minha testa
no sangue de meus olhos
no fel de minha ira
olhar ali & além
recolher os panos secar os planos
sorrir com a cara de tacho
que o mundo me deu:

um palhaço não deve chorar

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

alone again

não consigo acompanhar transformações abruptas
embora doido e bipolar
cobro-me a ira dos insanos
um orlando furioso
a quebrar ossos & amassar focinhos
não o covarde
que bate em retirada
sem nem espernear

vc deve ter rido muito
ao me ver sair aos pedaços

domingo, 27 de novembro de 2011

deserto

dizer palavras algumas duras outras inesperadas dizer ditos tecer desditos e babas q empoçam nos ombros das moças de aparente fino trato um aparato de destruição e horror que abate sobre os judeus cada vez q pensam que podem ser mais alguem q podem distribuir sorrisos assim como a alegre freira francesa sempre esperando a hora de não ter que sorrir por isso pum está aí a verdade crua judeu não foi desta vez judeu  seriam necessários outros 5772 anos outros 2106780 dias judeu para aprender que não há diferença entre o q foi e o q ja era mas bem q poderia ter permanecido já o momento aquele momento momento dos momentos o nosso mas o mundo não liga para esse judeu de merda vc não liga & desliga & engana
há desertos mais desérticos q o neguev: seu coração por exemplo.

sábado, 12 de novembro de 2011

hemisférios

transito entre seus extremos
norte & sul tão extensos
léguas braças pés daqui
podia tentar outros meios de atravessar tamanha lonjura
retas curvas quando retas quando curvas
& saliências de ruborizar mocinha de folhetim
não há de ter fim esse seu paralelo
minha linha do equador
meus dois hemisférios
meu vinho chileno minha empanada
minha casa de palha
meu rio & ribeirão
rua asfaltada
serra de paranapiacaba
meu terabyte
minha estreiteza sua imensidão


4jlc

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

resquiet in pace

encontro mais dificuldades em contornar seu corpo
do que em pagar a conta do banco
do que em deixar o copo
por isso brindo a memória dos nossos desarranjos
das frases feitas
dos sorrisos impunes
olhares que olharam o mundo de outra maneira
mas que foi apagado no primeiro piscar
por isso as pedras
por isso as flores

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

sacrifício

preparei tudo de novo:
a casa a comida a cama
com aquele ar que os céticos ou os cínicos trazem
dei dois tragos no cigarro
e três tapas no capeta
para ver como reagem as horas
que se enroscam nos meus cabelos nas suas desculpas
e no campo do incontível

: poderia facilitar e abrir as pernas
como abro a boca
assim
sem calcular a notas
sem prestar as contas
entregando-se ao verbo
fazendo-se carne

                                                            tomai e comei

domingo, 16 de outubro de 2011

chinoiserie grotesque


perdi os pés por aí
pedi ao senhor do bonfim
que arrumasse outros bem pequenos
pés de chinesa
para dar pequenos passos & mostrar os dentes
mas que nada
por vingança tirou a mordedura deixando o afeto
& afeito às afecções de corpo e de alma
restou fazer fogo com os papéis das memórias
assando mônadas
ao ponto
assim meio cruas
como me cabe
porra

sábado, 15 de outubro de 2011

regen Regen rain

cai o céu
& meus sonhos despencam
não foi nada cândida a chuva
que se  precipitou em noite quente
antes lavasse a alma
mas insiste em molhar os olhos
de um homem
que já perdeu as calças & o nome
& nem sabe direito onde coloca
o próprio
pau.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

kelson revém

havia um horizonte por aqui
azar do mundo
construíram um predio uma casa um edifício
uma ponte uma pirâmide um cassino um bordel
um boteco uma zona uma área para fumantes
em frente à minha janela


não restou nenhum skyline ou por do sol
.naotermaisseufarolacessoseusmamilosdurosseusbraçosmolesseucabaçodoce
énãotermaiscéuquemeprotejasolquemeaqueçanemmaissoloemquerepouse.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

desertos

recolher as velas
içar o barco
guardar as léguas
pouco há o que dizer
quando se sabia
já de antemão
que nos sertões as embarcações encalham.

a geografia de seu corpo não é muito diferente:
aportei em áreas áridas

domingo, 2 de outubro de 2011

gigante

grande a não caber em meus braços
vastidão de histórias fortes & fonte de poucas tragédias
como cabem a você & aos curdos
que se escondem nas montanhas
teus pés são ganchos do tamanho do mundo
mãos que nem brabo ousaria atirar por antuérpia que você não compreende
corpo descomunal meu abrigo minha medina
para este tamanho todo o que será suficiente?
olho o mundo atravez de suas montanhas
não a dos curdos
mas por entre estas que beijo lambo & adentro
buscando o mar da tranquilidade
para pousar a nave 
& meu desejos

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

franceses & pernambucanos

digo aos franceses respondo aos pernambucanos
que estas ternuras
diabéticas de tanto açúcar
não estão isentas de dores
& outros absurdos
por isso imitem os belgas
que respeitam os sinais
mas também os paulistas
que furam todos
& não estão nem aí para a faixa de pedestres.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

carpe diem

é de foder o cú da existência
o que a ti & a mim designaram os deuses
não há músculo que resista
nem rosto que não desfigure
abatidos pela cólera dos santos
cada um foi para um lado
com cara de tacho com cara de bicho
fazendo beiço
desarmando feitiços
destruindo os amanhãs

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

no alvo

um carro passa.
passa uma bicicleta
umas motos passam & assombram
nenhum chuvisco nenhuma chuva
nenhuma pausa ou silêncio que refresque
só essa falta
essa ausência
& este buraco no peito
:seu tiro, mio caro, foi fatal

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

david e jônatas



Jônatas despiu-se da túnica sem mangas que usava e a deu a Davi, e também suas vestes, e até mesmo sua espada, e seu arco, e seu cinto.
I Samuel 18:3-4

ali a pedra aqui a funda
depois de derrotar golias
nada mais a fazer
outras guerras
outras conquistas
mil mulheres e o coração de jônatas


aqui a espada ali a túnica
depois de ter jônatas
tudo a fazer
novas guerras
novas conquistas
algumas mulheres e a alma do princípe


ali o sangue aqui a dor
depois de perder o filho do rei
para que fazer nova guerra
outra conquista
a falta que ele faz nem a mulher
ou a coroa alivia

domingo, 4 de setembro de 2011

buxtehude, membra jesu nostri

http://youtu.be/B6TxTIkWAiY

ad pedes


o dia pede calmarias abundantes & necessárias
depois de estar aos pés da vida
nada como a planíce de um sorriso para aportar.


ad genua


andei muito de joelhos por aí
rezei
rezei
rezei quilos de rosários


ad manus


estive em suas mãos.
mas já estive em mãos piores
às quais a sua se soma.


ad latus


de costas marcadas pelo pi dos cálculos
& pelas unhas dos desocupados
quero séculos de distâncias
metros de memórias


ad pectus


um novo corpo repousou em meu peito
eu todo mater dolorosa
afaguei os cabelos
mordisquei os lábios
alisei os pentelhos
pus de joelhos
fiz tremer.


ad cor


o coração do mundo não parece mais tão apertado
nem o meu
alguns alargadores
fórceps & colheres ginecológicas
deram um jeito neles


ad faciem


tava na cara
que a química ia pintar
uma ligação
imperfeita & imprecisa como o diabo gosta
mas o que fazer com as réguas & esquadros
que desordenaram meu mundo?




sábado, 3 de setembro de 2011

so far away

paro para pensar no que fomos:
bossa nova um tanto velha demais para quem tem vinte & poucos anos
& não suporta abolerar o blues por muito tempo
senão descabela
senão descabaça
senão alarga o passo
& some pelas calçadas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

maratona de londrina

os atletas passam correndo pela minha janela
estão em fila indiana os atletas
em fila indiana os atletas parecem indianos
com sacos em suas cabeças parecem formigas
e as formigas pisoteadas parecem tortas
e eu torto de fumaça
tonto da cabeça
estendo a bandeira do desejo

a meio pau

sábado, 27 de agosto de 2011

the end of a love affair


projetos, pintos & relações murcham
assim como marcham os soldados
assim como mancham as flores
assim como mancam os amputados
indefectivelmente
& fica o pó do giz
o gozo de puta
o sorriso de arlequim
ninguém passa incólume ao seu corpo
é como lavar convés
é como plantar batatas

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

mairie

curiosamente a vida segue em passos largos. lá em londres com mais pés
em atuérpia com mais alma em brno com mais vagar.
vagamente me lembrei de você.
o que se sabe é que após dores intensas & cólicas renais um outro olhar cruzou o meu. talvez tenha sido o do fantasma do père lachaise. ou de gente mesmo com rg & contas a pagar com sorriso intenso e larga seriedade. uma espécie de desejo nascendo em francês. não foi em assis (onde sepultei meus pais & desenterrei meus pés). nem em paris. mas alí logo abaixo nesta terra de espigões aqui perto na boca do vale na beira da avenida na vulva da cidade.
voltei renascido. a pé mesmo. para casa.

4be

domingo, 21 de agosto de 2011

roundup


as flores todas desistiram do azul
azar meu
cianótico que sou
só a maria que é sem vergonha
sempre que pago me dá um beijo seu

sábado, 13 de agosto de 2011

kata kelson

a saudade dói demais sob grau celsius
seria preciso talvez guarda-sol
porta-lápis
arco-de-púa
calculadora eletrônica
para evitar os tumores causados pelo excesso de exposição
ao seu desprezo
invocar orígenes pode ser uma saida
para alexandria
ou para o desenvolvimento de produtos
nada originais que apaguem as cores
ou as dores
parte por parte
pedaço a pedaço
até tirá-las da linha
riscá-las do mapa
defenestrá-las
pelas janelas daqui ou de praga.






domingo, 31 de julho de 2011

nosso amor classe média

nosso amor era classe média demais para dar certo
papai demais
cama populista de a a z
com bilhetes distribuídos
sem senhas
no final da tarde
ou no escuro da noite.
eu não bordava panos enquanto você rompia contratos
bem comezinho
de moto ou carona
nesses cantos da vida.
mentíamos juntos
um para o outro
como estratégia de ascensão social.
nosso amor classe média acreditou em horóscopos
em ganhar na loteria
em bilhete premiado
nosso amor classe média
só não sobreviveu à nossa própria mediocridade

quarta-feira, 13 de julho de 2011

meu aniversário

ontem acordei cedo escovei os dentes cortei as unhas
um a um meus desejos passaram por mim um a um
presentes bem embrulhadinhos
sonhos embalados
musica alegre
restaurantes, cinemas, chocolates
roupas, sapatos, perfumes
passagens, ingressos, bobagens
era meu aniversário.
o telefone tocou algumas vezes.
celular nenhuma.
caixa de e-mail morta

era sua monumental ira aquariana
a preencher o meu dia

sábado, 9 de julho de 2011

samba & bolero

senti o fel na boca ao ouvir sobre suas traições
justo quando eu tranquilo segurava a franga
punha a barba de molho
& me aquetava
em respeito ao seu nome
como diz o samba

arranquei os meus olhos ao ver suas mentiras
justo quando eu tranquilo arrumava nosso mistério
guardava os sonhos
& te esperava
por pouco ou muito tempo
como diz o bolero

maracas & cuícas no chão
seu desprezo largo
sua cara de tacho
sua honra de merda
seu caráter de cão
maracas & cuícas no chão

domingo, 3 de julho de 2011

urinol

estou incontinente
mijo minhas dores onde quer que eu vá
não há nada que se possa fazer em voz mais alta
tentei fazer um bolero
moda de viola
uma ária com elevada coloratura
dar um dó de peito
experimentar coisas que estavam reservadas para você.
mas minha bexiga não seca
mijo a cântaros
e quem me canta
não quero bem

sábado, 2 de julho de 2011

tradittore ou canzoneta pra morrer de raiva ou dito pelo não dito


fui fiel como um cão
comi o pão amassado pelo diabo
dei vantagens & meu coração
em troca dos trocos que me dava
não esperava que outros recebessem o valor principal
recompensas
& mais recompensas

11 dias atras eu devia a alma & paulo premiado
38 dias atras eu devia o corpo & q nadava de braçadas
59 dias atras ainda era todo seu & luiz festejava comigo o brinde recebido
rimos ele & eu
tomamos cerveja
e sem nenhuma inveja
disse: aposte!
não havia nenhuma pista que me levasse até seus braços.
hoje sei que você todo roma converge vários caminhos
essa foi a paga
prá quem só foi dedicação
pois é
então...

terça-feira, 28 de junho de 2011

isso passa


passa cachorro
passa boi
passa boiada
banana também passa
passa-anel passe-partout
até passa-ana-maria
mas você todo diógenes, o cão
me passou a ferro
com suas sabias palavras
isso passa
uva também

sábado, 25 de junho de 2011

neun Haiku und ein Epilog

1.
meu mundo nunca foi uma gondwana
mas deixa-lo assim
ao pedaços
é covardia

2.
a primeira vez que olhei seus olhos
estavam tão verdes & caribenhos
que mergulhei fundo neles

3.
gostei de te ouvir gaguejar
para mim suas palavras
soavam como gorjeios

4.
seu risoto
de pera com gorgonzola
comi ajoelhado
virei garoto

5.
não havia perfume melhor
que o cheiro de suor
espalhado pela casa

6.
você deixou a marca de seus dentes no meu braço
mas a estrela da minha fé
te acompanha em cada passo

7.
brinquei de ser menino
andei de bicicleta
& me ralei todo

8.
não durou até meu aniversário
nosso aniversário
de nuvens & aventuras

9.
você faz terra arrasada
com sua calculada
indiferença

epílogo
olharesselandscapeondevocê&acidadeseencostamdeixaumamargonabocadáumadornascostas

não houve festa

hoje era para ser festa. chaves na mão. coração na boca. paus e cus a postos.
um beck pra mim. um vinho pra você. & toda nossa gastronomia.
de lá são paulo. rio. vitória. amsterdam. antuérpia.
mas não foi assim.
voltei sozinho do nosso ap. apertando o pé. pisando fundo. catando porcos.
os poucos pensamentos estavam a sua procura.
mas você não estava
& agora sem óculos vejo que jamais esteve
onde estava escondido
meu
coraçãozinho ateu de galinha
minha testosterona toda
& meu cu embrulhado de presente.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

rudepoema


balinha da benemerência.
bolinha daquela velha e boa finesse
tirada com garbo do meu nariz torto.
mas talvez você também torcesse o seu
se ouvisse sua voz fanha
a pedir mais & juras & mais outras vezes mais quando chovia paixão
cântaros
d'água
& corações polissêmicos.
eles batiam no descompasso das descobertas daquele domingo
ficaram surpresos a cada surpresa do gosto
& totalmente bluesies
dançaram a dança dos que dançam quando se fundem.
passaram os dias mudaram os gestos
mas as marcas na parede & na existência
ainda estão visíveis
são bandeiras & arte
tanto quanto suas freadas
desfraldadas ao vento hasteadas na alvorada.

nude poem

um fiasco
é o que se pode falar de nós
que inventamos a roda
após muitas conquistas
essa dupla
como batman e robin
antes imbatível
se recolhe
cada um em sua caverna
tão ovo tão apertadinha
que só cabem
alguns fantasmas
pendurados
aqui e ali

segunda-feira, 20 de junho de 2011

fullhouse



o dia amanheceu vazio
minha cara cheia
meu corpo ao meio
1/3 do copo de gim
a casa repleta
de tua ausência.


pensei em gritar 3 vezes seu nome
li várias vezes o seu horóscopo
e tomei banho pra lavar a alma


não havia mais seu sorriso
nem nossas coisas
menos ainda nossos planos

mas meus braços abertos não se fecham
meus desejos duros não desistem
e meu orgulho
ora meu orgulho foi para o ralo
onde estou
a teus pés
olhando pra cima
esperando
seus olhos ficarem verdes
para atravessar o sinal.



sábado, 18 de junho de 2011

pink anus



para que tecer loas



aos olhos de quem não quer ver



se é possivel cantar



em verso e em prosa



os pelos dourados



o cu rosado



do menino abóbora






2bfw

quarta-feira, 15 de junho de 2011

lumpenmensch


os cheiros os pelos e os olhos
ora castanhos
ora verdes
não são mais capazes
de dizer coisas boas de ouvir
agora só coisas transparentes
e burocráticas saem de ti
e eu
engavetador geral de memórias
remoendo pratos
remendo
os trapos que me componho
pois nenhum soneto me salva

segunda-feira, 13 de junho de 2011

férias frustradas


nem o rio amstel
tampouco dam & outras praças
rembrant
jonas daniel meijer
meester visser
nenhum café louco & benfazejo
sequer espiadela no pathé só pra ver onde se dirige o desejo
...
nem o rio scheld
e sua marmorra onde meu coração adormece
nada de grote markt & seu brabo
nada de descer linda
pela nationalestraat
& dar pinta na meier
nenhuma carinha cult
nenhuma carinha de anjo
putto & barroco
nenhum artista esculpindo sua pedra
de janela aberta ouvindo jacobus clemens non papa.
...
& tantas outras planejadas aventuras
por frankfurt
& talvez milão
mas não estava no mapa
ficar no meu canto sem você

domingo, 12 de junho de 2011

há sentidos que não cessam
significados então
todos dicionários atacando
é covardia
mais vale arder em febre
do que buscar entender
essa categoria
de gente
que fica feliz
racha de rir
mal cabe em si
quando
você quebra o nariz

valentine's day

naufrágio na baía
os casais comemoram
as crianças correm
o japonês frita peixe
desarrumo doidamente o armário
desarmo a ternura
tusso firme para não chorar
& cuspo mágoas
rosário delas
mar de mágoas

sexta-feira, 10 de junho de 2011

(de)composição


não são apenas meus dedos que são podres
eu que sou todo deletério
cheirando os odores dos malditos
exalado o hálito dos danados
é incomensurável o mal que trago em mim
é incompreensivel o estrago de que sou capaz
é inconcebível a a ruína que semeio
jogue água benta se benza faça o nome do pai
e agradeça deus por ter partido
inclusive o meu coração




domingo, 5 de junho de 2011

antilamento farrapo



não sou das plagas do rio grande

sou das pragas dos canaviais & da terra roxa

caipira nos erres e esses

não solto nenhum mas bah

engulo dissonâncias

não meço distâncias

pulo

corro

entre as troxas

entre os trouxas

com meus sapatos sujos

com meu olhar sujo

e minha alma vazia



não sou das plagas do rio grande

sou caipira

então tenho um pouco quase nada

a te oferecer

segunda-feira, 9 de maio de 2011

vite



trop tarde

pra mudar

recolher as tetinhas no varal

prender de novo o que já saiu

feito gás

é impossível

melhor que sossegar

por as barbas de molho

& as babas no molho

é sair

feito besta

pela vida

que vira logo alí

na esquina

desinventando


amanheci duro e definitivo
parei de contar estrelas as 4 da manhã
guardei os lençois & os lenços não usados
procurei inutilmente o pé esquerdo de meu calçado
ensaiei 3 bocas e 4 caras caso sejam necessários
adormeci meu pinto
calei meu cu
e desisti
parei de inventar sua presença
preferi lidar com esse rasgo na alma
esse buraco no dente
a ficar sob seus pés
com essas frieiras entre os dedos
pisando meus desejos.

sábado, 19 de março de 2011

outra canção de adeus e bye


esgotei meu repertório de gritos
não há dor ou magia que faça
mudar as circunstâncias ou os fatos
minha cara
meu cu
e eu
não tivemos nenhuma importância
nenhum valor
que valesse seu tempo & história.
então em filinha indiana
batem em retirada
meus olhos
minha disposição poética
os joguinhos de sedução baratos
os montinhos de desejos & insatisfação.
todos devidamente recolhidos
ja sem trilha sonora
partem
sem quebrar louças
sem dizer adeus sem deixar saudades.



sexta-feira, 18 de março de 2011

não sou novela que passa as sete


ando sentimental
tolo & sentimental babando olhares por aí
o dia passa pesado. biscatinhas jogam xana & meu olhar parado
tenta passar despercebido.
teço um ar blasé bem ensaiado shakespeareano que sou
que mal esconde e abafa mi fuego de quererte y mi miedo de perderte
menos trágico & mais abolerado
que pinta
e colore meus mundos
ainda a descobrir.
mas melhor assim
em p&b e sem perspectiva
como um blues do caralho
que me rasga a cara
me corrói a alma
e me aperta os pulmões.
mesmo fraco expondo pleura
ainda assim seria capaz de dizer
adios amor
ya me voy
e não me siga pois não sou novelo
nem novela.
(embora enrolado e sem nenhuma barriga)

quinta-feira, 17 de março de 2011

ressentimento à moda de rosalía


os pássaros
que agora são só seus
depene-os
destrinche-os
frite-os

que sequem
que morram

enviarei flores
em nosso nome

encomendarei missas
rezarei rosários
puxarei encomendas
entoarei benditas
ao nosso nome

jazem os pássaros
ali onde meu pau repousa





terça-feira, 15 de março de 2011

discriminatio RIP



nostalgia dos tempos que não te conhecia

quando o universo se abria em grandes possibilidades
existiam os indios
existiam os caciques
existiam os marujos
e você não existia
quando vc entrou em minha vida
tudo desapareceu.
até que chegou a sua vez.

as coisas agora aos poucos voltam
sem o mesmo ânimo dantes
sem os mesmos mínimos dentes
mas com a vergonha latejando
no lugar do desejo.


por que preferiu matar o que nos mantinha
acabando com mesa cadeira esquadro carteira?

domingo, 13 de março de 2011

tien zehn ten haikku


1.

o que um luarzinho pode fazer?

talvez nem possa ajudar

esse luarzinho de merda


2.

tres dias tres noites

ressecado de corpo e alma

cagando nacos do existir


3.

de perto seu signo combina com o meu

um é fleumático outro é sanguíneo

se os astros valessem seríamos constelação


4.

dores por todos os lados

de dentro

fossem musculares tomava

medicamentos


5.

dizer prum bicho triste

que a tristeza um dia acaba

adianta?


6.

nossos encontros foram tão bons

que fico mau

quando lembro deles*


7.

olhar as coisas

com seus olhos entre verde e castanho

colore o mundo


8.

não ser bem-vindo em sua casa

torna qualquer um

malvindo pra vida


9.

se outros corpos ajudassem

centenas jazeriam

aqui comigo


10.

apaguei em mim a sua estrela

brilhava demais

a danada





*fátima guedes tem um verso: "& dei pra relembrar as coisas más, prá esquecer" que também pode ser lido como "& dei pra relembrar as coisas, mas pra esquecer"



sábado, 12 de março de 2011

cançãozinha de adeus barata


o que se escreve em um texto de adeus
vá pra puta que pariu?
não.
hoje meus desejos são dez:
estar em canto nenhum. sem nenhum encanto.
vomitar tres vezes a vergonha de ser quem sou
cagar pedaços inteiros daquela esperança que enfiei no cu
mijar os planos todos eles quase intactos mas apostados
fumar todas as pontas possiveis de seus sonhos
arrancar de meus braços os seus dentes
tirar cada pena do que eram nossas crias
cair na cachoeira e não nadar ate as rochas
espremer meu pau contra o muro só pra ouvir o barulho
e enfiar-me dentro de minha propria quinta prega à esquerda
e sumir
do mapa
do mundo
enfim

sexta-feira, 11 de março de 2011

andante


cara de homem jeito de homem pinto de homem
por dentro pobre criança
mal pode com as pernas.
passarinhos gorjeiam pra facilitar o dia
motos passam rommmmmm dificultando a noite
chuva cai molhando os otários e cansando os idiotas.
achar sentido para a equação é tão inútil quanto para o alemão:
havia kalrsruhe, se ainda há não sei
o forte dos francos também estava no mapa
talvez já não esteja.
não há mais nenhum lugar
onde possa dizer eis aqui meu naco meu quinhão.
ou alguém que se possa dizer meu amor meu irmão.
e o homem com cara de homem jeito de homem pinto de homem
depara-se com a sua própria nulidade
e fraqueza
tivesse brochado bastava cialis bastava viagra
talvez passar por viado
talvez comer um viado
depois deixar-se ir embora
por esses caminhos
já sem mato adentro
como criança perdida
já sem pai sem mãe
sozinho e definitivo.


quarta-feira, 9 de março de 2011

sao-ass-ldn em 5 numerais e um epílogo


1.

acho melhor nem tentar

traçar a hipérbole

que sustenta

meu arco




2.
não basta pensar com régua

em meus domínios pensa-se com a cabeça

e com as duas




3.

não esperava q encontrasse nas catracas do metrô

quem eu corri por léguas

e confesso que ali morri um pouco

ou talvez dois terços

de ciumes e de desejos

: quem é mais macho?


4.

nenhum amigo me aguarda nessa cidade

olhos vermelhos de terra vermelha batida

ruas e corações de pedra

gente feia gente velha

e as ruas

todas de chão onde meus pedaços jazem


5.

era para ser a quinta etapa.

eixo sp-ass

tronco ass-ldn

e ao final meus abraços.

qual nada: nem telefone, sms, e-mail, mensagem instantanea

sua ausência chegou imperiosa

e me deu um chega pra lá tão forte

que até agora procuro

solo.


epílogo

de nada adiantaram palavras e gestos

mal e mal consigo ler documentos escritos

estava tudo errado

desde o o alfabeto

o que restou

é esse ruído em meu peito

é esse homem assim sem jeito

que desisitu de apostar

nessas loterias


billie holiday


equanto tiver unhas cavo abismos calço caras sustento artifícios. quem sabe assim fujo de billie que no holiday fugiu de mim.billie tire as botas billie não pise assim nesse coraçãozinho de velhote assanhado. quando falar comigo me olhe billie querida. quando chegar depois de farras e fodeções fale comigo billie querida. me extermine billie. vagabunda. não há nenhuma vantagem em ter você. tenho seu olhar. seu olhar. e que faço com seu olhar, billie? eu fodo com seu olhar? enfio meu pinto que te deseja em seu globo ocular billie querida? seu globo ocular não me serve de nada. se verde ou caramelo não sou eu que o fecho nas noites de beijo e tesão. se soubesse não teria fechado naquela manhã em que você o abriu e me acompanhou. billie joguei sementinhas de petúnias (ou seriam verbenas) dentro de seu globo ocular direito que furei com meu pau. deve ser das coloridas billie. terá olhares multicores e dai sim se lembrará de mim, quererá meus braços e me arrastará pra alguma cama onde serei seu homem.
seu homem.
não sei.
não acho lugar nas brechas de seu corpo billie.
por isso acho que aqui paro aqui findo aqui zero.
nem unhas mais tenho.

terça-feira, 8 de março de 2011

viper

cobrinha cinza
quase cega
que cava meu peito
não muito afeito aos gêneros de sua espécie
mamba negra
cuspideira
que me cega de ira santa
mas em sua mira me põe alvo fácil
queria encher a cara acender sua casa queria chutar sua bunda
e vomitar um pouco
as amarguras desse mundo
dar umas bicas
ir numas quebradas
estapear seu focinho
morder seus mamilos
pegar você em meus braços
e meter-lhe a vara
cobra
serpente
víbora

sábado, 5 de março de 2011

ldn-ass-sao em 5 numerais




1.


olhinhos mijados de paul mitchell


sete dias e sete noites de descanso em tel aviv


a vida voa e mantem xícaras de açúcar e alegria


em suspensão


nenhuma vadiagem programada


nada que avance mais do que posso ir


outra e outra miragem


para matar a saudade para frear a vontade


de ter você ao alcance da mão




2.


você tem espuma nos olhos


que amortece e tece outras mortes


quando você desaparece


nem o voo da air france


nem o sorriso do lagarto


nem a afinação em si me protegem


quando você desaparece


o céu despenca em pedaços quase inteiros de nuvens e gelo


sobre minha cabeça


e são pedro


de propósito faz xixi




3.


estava de pau duro quando limpei seus olhos


todos seus olhos


e não sosseguei enquanto não amoleceu




4.


quando voltar


nada de clamar por inocência


poderia bem ter ficado


rodeando a mim


mas não


preferiu ir ao sertão e depois ao planalto


levando os apelos de meu coração


como escalpo.




5.


cinco vezes chamei seu nome


cinquenta outras chamadas de telefone


quinhentos e tantos mil pensamentos


a milhão




quando seus olhos estão verdes

algumas palavras saem de meu corpo

mesmo quando estou mudo

outras e muitas também saem

pelos poros

pelos pelos

mesmo quando estou calado

nem todos sabem meu alfabeto

não conseguem ler as letras

de que me componho

gosto da maneira como me olha

decifra

e vê



sexta-feira, 4 de março de 2011

no carnaval


qual batatinha

nesta festa da carne a hora é da razão

guarde seu olho-lâmina sua lingua-canivete

e se apresente

nada de sair por aí.

se vc for eu não volto

mas se ficar

tira a roupa

que há muito tempo espero

outra tarde de perder a conta.

quarta-feira, 2 de março de 2011

zodiaco pqp


hoje amanheci mais duro

pau mole

& desejos deixados de lado.

acendi precoce um cigarro

estraguei de propósito seu sorriso

e mergulhei fundo no mar de amarguras e outros peixes.

antes de sair lerei meu horóscopo

e o teu

e se marte insistir em conjunções e conjunturas

arrumarei as malas

e me deportarei

para onde as putas parem

domingo, 20 de fevereiro de 2011

fidélio


pombas-gira gorjeiam sobre o varal mal disposto


pombas-peru de antuerpia limpam o bico no mesmo varal


periquitos & rouxinóis recolhem as sujeiras deixadas pelas araras


que aleardearam alvíssaras.


indiozinho pataxó dá as mãos para um terena


que embrulhadinhas em folhas de bananeira


são assadas ao ponto


porque índio quer apito


& o pau comendo.


em outra praia pascal medita & dorme


vomita uma babinha metafísica


boa para fazer papa de calopsita e vestidinho de bispo.


o passaredo todo alardeia a ideia mais despropositada


fazer propósito e não ser nem andorinha


muito menos galinha


dangola

índia ou


carijó.


ciscar por ai:


never more


nem sobre o busto de palas athena


nem sob as botas do gato de napoleão


nem atras das cortinas do municipal


tampouco na sua frente na sua cara.

pombinhas da paz fazem cocô nas estátuas congeladas do tempo


cagam florezinhas da paz


inutilmente


as pombinhas da paz


se cagassem tréguas soltaria rojões em seu e em meu nome


moraríamos juntos


e estrelariamos comercial de margarina maionese ou mingau de aveia


mostrando pra todo mundo os dentes mais brancos


e as cores mais vistosas


que o amor pode proporcionar.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

sinfonia bem acabada

andar léguas
mantendo a cara boa
bem disposta
é exercício mas não para mortais
bater portas
& cabeças
e ainda dar sorrisinhos no canto da boca
isso sim é coisa de humano
com nariz pinto cu
que caga no início do dia
preparando a cagada do fim da noite

os malditos pássaros piam a sinfonia que insite em acabar

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

aula de natação


dificuldades imediatas

mascar ciúmes e vomitar sorrisos.

pedacinhos de mau humor entre os dentes

fumaça em excesso nas narinas

nudez constrangida pelo pau em riste

maldades abundantes na cabeça e nos olhos.

fazer escolhas dá em água

farta para afogamentos

ou desesperos.
:nem sempre a gente sabe nadar



sábado, 29 de janeiro de 2011

festim diabólico


o dia amanheceu nublado

nevoas densas de cigarros ainda pairam pela casa

joão gilberto desafina no repeat

doses não bebidas dão cheiro e cor ao ar

pessoas desinteressantes se interessam por mim

eu passo

pássaros também não muito lá interessantes

ocupam toda sua atenção

eu passo

a mão pela cabeça

com a estranha sensação

que tomei no cú

e três vezes

domingo, 23 de janeiro de 2011

de bye em bye


índices de produção em queda

catanças a esmo dos sentidos & dos significados

calopsitas cagando pelo quarto

décima despedida

um estranho sorri fechando os olhos

a feira estava feia & cheia de orientais

descomi um sukiyaki na banca de pastel

& comi três

dei cuenta

do alto de minha macheza contemplada em quase meio século


vc deixa pistas por onde passa

& planos também




sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

aventura rural




pela estrada afora de terra vermelha batida e rasgada

medinhos infantis sobre duas rodas

desejos de adulto com pernas bem apertadas

cheiro seu gostoso esfregado na cara pelo vento

um salto

dois sobressaltos

& o coração já aos pulos & entregue na milúltima curva
enquanto a cachoeira se taca rochas abaixo

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

desbodas


dez anos
não são dez dias
nem se contam em dez dedos
mas contam nossa história.
por aí
nos bares os bêbados choram
ali e aqui fogos estouram
uns poucos lamentam.
fomos felizes
tivemos muitos filhos
faríamos mais se mais tempo tivessemos
não tivemos.
por isso os vasos
as louças
os talheres
os lençois
travesseiros
perfumes
copos
gravatas
chinelos
viagens
o quarto na rua plenska
& as correrias pela radlicka

jaloezie, jealousy, Eifersucht


estômago e fígado espremidos
impressão de passar por tonto o tempo todo
terra nas unhas
alguns sorrisos que pouco significam
& muita chuva
são pedro manda água
torro a ponta mordendo os dedos
como um quibe & desisto de tomar café
(gosto quando flexiona os verbos na terceira pessoa do plural
odeio quando tem curtas falas ao telefone)
volto para casa
pisando duro & cara fechada
regurgitando a bile amarga do ciúme
fazendo força para ficar quieto
& aquietado no canto bonito
da menina
que parece que nem peida.

sábado, 15 de janeiro de 2011

carpe diem


já estava desarmando os amanhãs
quando você novamente voltou
só por hoje.
então só por hoje
nenhum plano
nenhum bimotor
nenhuma exclusividade tua ou minha
só o aqui e agora
presente tenso.
novo dia
quem sabe
depende da disposição poética
das afinidades eletivas
ou
dos astros
dos arcanos
do i-ching
dos búzios
das cartas
das runas

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

torquatada bipolar


acho que estou triste
acho que estou muito triste
acho que estou completamente triste
(outra forma de dar dito
ao dito de torquato
que quis ser contente)
acho que estou contente
acho que estou muito contente
acho que estou completamente contente

completamente completamente
pode ser que eu já seja
que já tenha sido
completamente completamente

sábado, 8 de janeiro de 2011

o fantasma de florence


florence welch tem um fantasma nos pulmões
mas o que me mata é o fígado
bilioso que sou
tomo doses cavalares de tequila
gim tônica
vinho barato
manhatan
meus fantasmas são todos etílicos
e ardo na noite
caminhando sem meus pés
verde de raiva
roxo de fome
vermelho de vergonha

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

um dia


o dia amanheceu tenso
barba por fazer sapatos por limpar coisas a comer
quando ja lá pela milúltima vez abri a milúltima página
de leopold
masquei o papel que rabiscara seu nome
para não esquecer
meu almoço foi comido de boca amarga de páscoa judaica

tempo nublado
os peitões da louca sufocam as tentativas do sol surgir
o après-midi se arrasta com a velocidade de uma velha carroça
ou melhor
velha charrete que conduzia putas
abrirei um bordel a tarde e ficarei rico
viuvas enjeitados pais de família mulheres bem resolvidas
todos excelentes clientes
todos merecedores de consideração & bom tratamento

o que estava reservado a você
entreguei hoje para outro
velejei sobre águas tranquilas
apoiado em ombros nem tão novos
saltei sobre nuvens frias
segurado por fortes cinturas
o que estava reservado a você
foi tomado por algo tão grande
que te faria cortar os pulsos
por inveja e incapacidade
de voar sobre as folhas

as árvores não ficaram mais verdes a grama mais vivaz as flores mais coloridas.
as cores não trouxeram mais alegrias
as flores as risadas.
não havia alemanha
não havia o medo & paixão pelas aves
só um hálito morno movido a mágoa
e desfaçatez.

a noite caiu
pairou um silêncio nublado na multidão dos meus sonhos
nenhuma rutilância

deitei esperando outra pompéia

mas o dia amanheceu sujo
trocamos rapidas palavras de indiferença
outra barba feita
nenhuma outra pompéia


(acho que comprarei um cachorro)

by the way


dias & dias andando
a esmo
por esses corredores
esta não é sua porta não é sua casa
só é sua a vontade de monge & de gira
& meu ar vulgar
com meu carro vulgar
vaga pelas esquinas
esquivando dos olhares que me olham & me secam
como as plantas que ficaram nas promessas

vale dizer: estava pronto para o seu abandono
eram planos demais
para minha vida inclinada
ao tédio